Triste Diário de Polinsky Salvatore
1º ato – breve relato de um jovem sem atitude
Querido diário,
Há dias venho tentando descobrir o que se passa dentro de mim.
Mas a verdade é que quanto mais perguntas me faço, menos novelos desfaço. Por esse motivo, trago alguns dos meus pensamentos vazios para preencher suas linhas e, quem sabe, encontrar a minha saída. Ou, pelo menos, o meu caminho de volta.
Você, mais do que ninguém, sabe que sempre fui um garoto expressivo, comunicativo e cheio de palavras. Desde a infância, às margens do Rio Ural, em Oremburgo, até a juventude, às margens do Atlântico, em Salvador.
Entretanto, de umas semanas pra cá, meu mundo emudeceu. Muito estranho, parece que o silêncio me persegue, assim como a sombra das dez e meia. Não, não é um silêncio ruim, nas noites de calor sou capaz até de sentir aquela brisa fresca com cheiro de maresia.
É um silêncio misterioso que me faz prestar mais atenção em tudo: no céu, no mar, nas estrelas, nos outros. É um silêncio poderoso, que mesmo mudo me ensurdece. Ao contrário de sempre, sinto-me incapaz de revelar o que sinto, pra ninguém. E por isso me tranco. E permaneço preso. E quieto. E mudo.
Ao mesmo tempo, aquele mundo que não é meu, circula enlouquecido lá fora. Ruas, carros, pessoas, vozes, vidas e amores soam como um movimento que, naturalmente acelerado, me desacelera, me atropela.
É isso mesmo, meu caro, o mundo veloz e feroz passa por cima de mim, vocifera suas mudanças e me deixa inerte.
E assim, continuo calado e quieto e mudo. E não mudo. Aos poucos, vejo o passado em todas as coisas...
continua...
4 Comments:
Fantástico, sem palavras...
Beijo!
Meu caro Polinsky, parece que voce virou um adulto nos ultimos dias... E adulto não é um homem que envelhece, ou que o corpo endurece... adulto não é aquele que ganha cabelos brancos, mas sim aquele que ganha a realidade, que sente o cheiro do mundo, que se decepciona com o planeta que aí está... e deixa de sonhar!
O pior de tudo... é que tem gente que já nasce adulto!
Meu caro Ackel,
Sim, acho que fui abatido por uma crise de adultez nos últimos dias, mas não deixei de sonhar ...
Bom pacas!
Eu diria que é um texto "buarquiano".
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