terça-feira, setembro 20

Triste Diário de Polinsky Salvatore

2º ato – a resposta do diário

Querido Polinsky,


Com todo respeito, vá para a Putchenka que te Parov ! Depois de anos te ouvindo em silêncio, hoje, de páginas abertas, eu me manifesto.

Manifesto minha profunda indignação com a sua postura fraca e inadequada. Você me diz que de umas semanas pra cá tem se sentido inerte, parado, sem voz. пожалуйста ! Isso não é de hoje, você sempre foi assim ! Fica buscando palavras bonitas e diversas para me dizer sempre a mesma koisa.

Valha-me Deus ! Eu, na condição de seu amigo diário e confidente, após 20 e tantos anos calado, sinto-me na obrigação de romper a barreira inesperada do impossível e falar. Espero que a surdez a que se referia, não tenha ainda atingido a sua consciência.

Vou tentar ir direto ao ponto, koisa que você não sabe fazer. Por que não aceita que sempre comete os mesmos erros e muda de uma vez ? Será medo, vergonha, orgulho ? O que acontece ? Você disse que sempre foi uma pessoa comunicativa e de boa expressão. Por que só utiliza essas habilidades para fins prosaicos ?

Você que gosta tanto das disputas automobilísticas, nunca parou para se perguntar por quê é o primeiro das pistas e na vida sempre chega atrasado ? De que adianta ser o número 1 do pódio se o troféu está sempre na mão de outro ?

Sinceramente, a minha humildade segura me força a afirmar que o seu mal chama-se "timidez de amor". Você é tímido e, por conseqüência, orgulhoso! Falha por não saber amar ou por não querer aprender. Sobra-te intenção e falta-te ação. Foge da mais antiga arte dos humanos e vem se esconder nessas linhas secretas e inanimadas...

E depois classificas o teu mundo de mudo. Mudo é você que conversa com um diário. Assim é fácil ! Quero ver ir lá e falar pra pessoas tudo que te incomoda e que te encanta.

Polinsky, друг, não fujas da briga de novo! Do contrário, o tempo vai passar e você vai ficar pra trás. Avance o sinal, ao menos agora...

continua...


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segunda-feira, setembro 12

Triste Diário de Polinsky Salvatore

1º ato – breve relato de um jovem sem atitude

Querido diário,

Há dias venho tentando descobrir o que se passa dentro de mim.

Mas a verdade é que quanto mais perguntas me faço, menos novelos desfaço. Por esse motivo, trago alguns dos meus pensamentos vazios para preencher suas linhas e, quem sabe, encontrar a minha saída. Ou, pelo menos, o meu caminho de volta.

Você, mais do que ninguém, sabe que sempre fui um garoto expressivo, comunicativo e cheio de palavras. Desde a infância, às margens do Rio Ural, em Oremburgo, até a juventude, às margens do Atlântico, em Salvador.

Entretanto, de umas semanas pra cá, meu mundo emudeceu. Muito estranho, parece que o silêncio me persegue, assim como a sombra das dez e meia. Não, não é um silêncio ruim, nas noites de calor sou capaz até de sentir aquela brisa fresca com cheiro de maresia.

É um silêncio misterioso que me faz prestar mais atenção em tudo: no céu, no mar, nas estrelas, nos outros. É um silêncio poderoso, que mesmo mudo me ensurdece. Ao contrário de sempre, sinto-me incapaz de revelar o que sinto, pra ninguém. E por isso me tranco. E permaneço preso. E quieto. E mudo.

Ao mesmo tempo, aquele mundo que não é meu, circula enlouquecido lá fora. Ruas, carros, pessoas, vozes, vidas e amores soam como um movimento que, naturalmente acelerado, me desacelera, me atropela.

É isso mesmo, meu caro, o mundo veloz e feroz passa por cima de mim, vocifera suas mudanças e me deixa inerte.

E assim, continuo calado e quieto e mudo. E não mudo. Aos poucos, vejo o passado em todas as coisas...

continua...

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