segunda-feira, março 31

Acesso restrito

Prazer. Meu nome é Cu. Cu Cicerone. Minha missão é lhes apresentar o 2o Encontro Nacional de Cus. Evento bianual organizado pela Associação Liberal dos Cus Anônimos e Apertados.

Em 2012 promovemos um ciclo de palestras para a conscientização sobre a importância do exame de toque retal em rabos masculinos acima de quarenta anos. Um assunto de saúde pública.


Hoje é diferente. Estamos aqui para discutir abertamente a polêmica questão do acesso restrito. O objetivo final é construir consenso acerca da liberação ou proibição da entrada das Rolas Insistentes. Por meio de fóruns e posterior votação, chegaremos ao veredicto.
 

Vocês têm acompanhado pela mídia o número crescente de manifestações e roleatas. Elas estão fazendo pressão na nossa porta. Pleiteiam o direito de nos adentrar com a mesma naturalidade que as amigas Bostas Corriqueiras têm para sair. 

Nas ruas, com faixas e cartazes, elas nos cobram uma posição. Querem a liberação oficial e consensual. Dizem que não desejam invadir porque senão perderia a graça.


Agora então vamos nos dividir em mini grupos para que o debate transcorra organizadamente. Peço que observem a cor dos stickers em suas cumisetas. No fundilho deste auditório há um painel esclarecendo qual cor vai para qual sala.


Por favor, dirijam-se aos seus espaços e iniciem as discussões grupais. Voltem à plenária daqui a duas horas com suas opiniões formadas e preparados para o voto aberto.      


E assim foi descabaçada a arenga. Pela primeira vez tentava-se discutir, entre os reais interessados, um tema quase secreto, tão cheio de fantasias, tabus e convenções.  

Na sala REGO-FÊMEA:


- Por que será que as Rolas Insistentes tanto querem nos comer? Perguntou a Cu Zuda.

- Porque a gente nunca deixa. Respondeu a Cu Carola.

- Já pensei em deixar a pica do meu namorado entrar. Mas desisti. E se a gente permitisse, sem restrição alguma?  Voltou a indagar Zuda.

- Aí elas iriam parar de pedir. Ficaria desinteressante. Ou iriam desconfiar que já fizemos outras vezes. Refletiu Carola. Não importa. Eu não dou, não dou, não dou. Pra mim, nós cus, fomos feitos pra expelir merda e não para receber pau duro!

- É mesmo! Eu também voto contra. O Cu Daminhatia me ensinou que homem não valoriza essas facilidades. Tenho receio de ser trocado por uma rosca fechada que nunca se dê. Concluiu.

- E eu que sou cagão, confesso. Uma vez tomei coragem e fiz uma tentativa. Isso dói muito! Como dizem, quem tem cu, tem medo. Sou contra! Mil vezes contra! Esbravejou Cu Namão.


Na sala TOBA-MACHO:


- Eu não faço questão do veto. Por mim, cada um faz o que quiser. Eu não curto, mas se tem quem goste? Essa definição é individual e cabe a cada cu decidir. Não pode depender de uma regra. Votarei a favor. Opinou Loló.

- Caralho, e você ainda diz que não gosta! Cu que é cu não aceita vara! Vai me dizer que nunca experimentou? Provocou Cu Machista.

- Eu não. Never! Liberei no máximo um fio terra e foram só duas vezes! Retrucou Loló querendo logo passar a bola. E você Cu Deferro, o que acha? 

- Prefiro estudar melhor os prós e contras antes de me pronunciar. Aliás, tanto faz, eu não como ninguém nunca. Que dirá ser comido! Voto em branco. Cu Deferro amarelou.


Após duas horas de reunião e caloroso debate, como combinado, os participantes voltaram para a plenária, prontos para a votação eletrônica.


Caso encerrado. 252 votos contra a liberação, 47 a favor e 1 em branco. Por consenso democrático da categoria permanece proibida a entrada das Rolas Insistentes.


E você que pensou que essa coisa de dar o cu fosse mais liberada por aí. Não é não! Se fosse, não estaria ainda tão presente no imaginário popular como o mais restrito dos acessos.

Bianca Sabatino

PS: Na revisão do texto tentei enfiar o personagem Pau no cu, mas vi que não cabia. Também ficou de fora. 

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